domingo, 8 de maio de 2011

Poemas pelo Dia Mundial do Meio Ambiente 2011, a 5 de junho

Deus, poetizas o meu coração


E minha existência


Verdeja!


Como a princesa natureza.




(Do livro "Deus: Andai-me!")






As toras embalsamadas


da fome dos ribeirinhos


da morte de todas as tribos


ressurgirão erguidas


em novas cruzes


ou horizontalizadas


em muitos caixões.


No anonimato.




(Do livro "Abdução no ventre da luz)





A Terra, menina virgem

foi rupturizada,

em viagem-vertigem,

patrocinada forçosamente

pelo patrão.

Fora de órbita, abduzida e traumatizada,

não lhe deu filhos.

Terrificada, canibalizou-se.

Devorou o seu violentador,

vomitado atroz/mente.

Hoje, desintoxicada, feliz,

é terra

do ventre livre.

Só come o que lhe faz bem.



(Do livro "Abdução no ventre da luz")

segunda-feira, 28 de março de 2011

Poemas pelo Dia da Mãe Terra, 22 de abril




Poemas de Maria do Rosário Lino que estimulam uma reflexão sobre o Dia Internacional da Mãe Terra, celebrado a 22 de abril. A proclamação da data pelas Nações Unidas supõe o reconhecimento de que a Terra e seus ecossistemas nos proporcionam a vida e o sustento ao longo de nossa existência, e por isso todos têm responsabilidades compartilhadas com essa que é a casa comum de todos.


EM BUSCA DO HOMEM PRÓDIGO

Eu corria

leve e solto

pelo planeta.

Hoje falta-me o fôlego.

Sinto-me pesado,

envelhecido num curto

espaço de tempo: a modernidade.

Antecedi outra forma de vida

que agora me mata,

subtraindo meu oxigênio, meu ar.

Respirar é difícil

também à Flora minha mulher.

Mas lutamos juntos,

sentindo a muita laceração

de nossos dias.

Mutuamente, nos consolamos

aos gritos de sobrevivência.

Mas ninguém nos ouve.

Somente o eco surdo

da própria advertência.

Meus braços são as baías,

os arquipélagos, os atóis,

as afluências do meu nascimento,

até agora imorredouro.

O corpo da companheira

é a planície curva, os arbustos,

a relva, o juritiubim.

Nossos filhotes, os atobás,

o jacaré-do-papo-amarelo,

os baiacus, os lagostins.

Nossos atos, a constante

interação de fazer amor,

erigindo aromas.

Os inimigos gratuitos

não nos querem no percurso.

E alimentam o aquecimento da Terra,

desequilibrando nossos hormônios,

nossa harmonia,

nosso ritmo cadenciado,

nossa produção de vida.

No trajeto, o restilo estupefaciente,

os dejetos decadentes,

o óleo transbordado,

a poluição desafiando nossas retinas.

O entulho nuclear

abreviando o amanhã.

E no entanto,

apesar de tudo,

ainda sou Doce,

sou Francisco,

Negro,

Vermelho,

sou Pacífico.

Sou água salgada,

sou o líquido

que te escorre

durante o banho.

Sou o corpo

que te serve durante a sede.

Sou o líquido

que te contém por entre os poros.

Sou o suor das matas,

o leite dos nascedouros,

o leito dos pescadores.

Sou rio, sou mar,

sou oceano, sou cantante,

na areia branca.

Sou carícia nas noites mornas.

Sou delícias no teu sorvete.

A seiva que se ruboriza

diante do Sol dourando

a pele trans-atlântica, transcendente.

Que não te pede nada, senão,

unicamente, que também sejas...

meu filho!!!


(Do livro"O adolescer de um novo dia", Edições Independentes, Campinas, 1997)


A chuva era rosa

e despetalava-se

sobre a madrugada

como uma noiva recém-desposada.

Um perfume suave ardia

na brisa inebriada, sem defesas.

Em doces melenas dançantes

o luar afagou-se entorpecido.

Fora-se um dia não dormido,

um momento sonhado,

resgatado em divã celestial.

O sol salgado pelo odor

da terra nasceria feliz,

por um longo triz apaixonado.


(Poema do livro "Sóis azuis em noites áridas", Komedi, Campinas, 2008)


Lindos índios...

... líndios!!!


(Do livro "Deus: andai-me! Vozes, dores, amores", Komedi, Campinas, 2009)

quarta-feira, 23 de março de 2011

MAIS POEMAS PELA ÁGUA, NA SEMANA DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA


Água em lombo de burro ainda é cena

comum em muitas áreas do Nordeste.


Naquele país de águas secas
Dissecaram-se esperanças
Saídas dos precipícios.
Inauspiciosos dias e noites
Calaram a voz dos ventos
Lamentos, apenas lamentos.
A terra que prometia vida
Exaurida pariu a dor da morte
Morreram também seus algozes
inanidos pela fome vingadora.

(Do livro "Sóis Azuis em Noites Áridas", Komedi, 2008)

segunda-feira, 21 de março de 2011

POEMAS PELA ÁGUA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA


Pantanal, maior área alagada do planeta

ÁGUA


Aqui, em se plantando


tudo dá: dá amor


nas veias dessa árvore


líquida que liquida a morte


como as fezes do acaso.


Casualidade, nenhuma.


O desvario é nuvem d´água


sagrada no amanhecer da mata.


Suas cascatas despejam


energia vital como


um vitral de luz


que se traduz em céu


em contato com o ar.


Ah! Quando o rio acaricia o mar,


suas vestes rugosas vertem


bolhas e espuma como


uma dança feliz de princesa.


Naquele momento a correnteza é


o encontro, um fragmento


de saúde, paz, plenitude, beleza.


(Poema do livro "A Luz é o Corpo da Alma", Komedi, 2002)



O ÚLTIMO FAROL


Suas águas viajam


transcendendo o horizonte.


Por essa floresta líquida


trafegam vidas e navios,


histórias e canções.


Ali habitam monstros


da fantasiosidade humana,


estrelas salgadas,


embarcações mergulhadas em infinito.


Nada mais bonito que a colcha azulada


percorrendo as praias entoando revoada


de figuras aladas.


O tom chumbo sóbrio e solene


acontece quando o sol se fecha.


Uma mecha de raios em flecha


desaba ao chão.


Mas os oceanos são povoados também


de criaturas tecnológicas.


Ideológicas, sondas submarinas


auscultam o sismo geo-político


mirando nas retinas metálicas


movimentos intempestivos.


Ah! O Atol de Mururoa,


foste uma terra tão boa.


Hoje envenenaram teus mantos


e aos prantos nenhuma ave mais voa


nenhum peixe faísca as ondas de luz.


Tudo se reduz à morte artificial.


Enquanto outras células ainda vivas


agonizam cativas da podridão.


Não! Se a água padecer


não restará sobreviventes.


Essa guerra surda hoje enterra


nossos parentes aquáticos.


Sorumbáticos, teremos o mesmo fim.


E lacônicas as estrelas


nos olharão piedosas,


temerosas, porém,


que o potencial destrutivo terreno,


num último e verdadeiro ato obsceno


alcance o macrocosmos,


matando também o eterno.


(Poema do livro "O adolescer de um novo dia",


Edições Independentes, 1997)



MAIS POEMAS DE MARIA DO ROSÁRIO LINO SOBRE ÁGUA NAS COLUNAS "+LIVROS POESIA II" e "POEMAS PELO MILÊNIO"

A Luz é o Corpo da Alma na lista de eventos das Nações Unidas sobre Dia Mundial da Água




Com a iniciativa Poemas pelo Dia Mundial da Água, o blog A Luz é o Corpo da Alma, sediado em Campinas (SP), foi incluído na série de eventos das Nações Unidas, relativos ao Dia Mundial da Água, lembrado neste dia 22 de Março de 2011. Neste ano o tema do Dia Mundial da Água é Água para as cidades: respondendo ao desafio urbano. O blog A Luz é o Corpo da Alma publicará neste dia 22 de março vários poemas de Maria do Rosário Lino, tendo a água como tema central. Lista completa dos eventos no link http://www.unwater.org/worldwaterday/events/events-list/en/?page=5&ipp=20&L=0&L=0&L=0&L=0&author_email=5

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O CLONE


(Poema do livro "A luz é o corpo da alma", Komedi, 2002)
O CLONE
Olho, vejo, como, durmo.
Só não há sentimentos.
Resta-me saborear a vida dos outros.
Beijos ardorosos, brigas, desentendimentos.
Paixão, não a tenho, não a sei.
Mago, o ancião me diz:
saia da sua busca,
não há espírito.
Viver sem ele é penumbra,
porque a luz é o corpo da alma.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

NÃO HAVERÁ CURUMIM

Crianças indígenas no I Encontro dos Povos Indígenas no Xingu, em Altamira (PA), final de fevereiro de 1989. Primeiro grito de alerta contra o projeto de hidrelétricas no Xingu, a primeria delas a Kararaô, atual Hidrelétrica de Belo Monte (Foto José Pedro Martins)


(Poema pela Amazônia, no momento em que novas ameaças, como a da Hidrelétrica de Belo Monte, pairam sobre a região)

"(...) Indiferentes à tristeza,
as abelhas ainda polinizam
a natureza.
As andorinhas
entoam revoada.
Mas nada,
nada
será como antes.
Nem os rituais
têm mais esperança.
Só a lembrança...
O grito inaudível
ecoa
na impassibilidade
das autoridades
sempiternas.
Como se houvessem
cercas eletrificadas
claustrofobizando
o ar da natividade.
A vitória-régia
chora
imensa derrota.
A rota
do comércio insaciável
rouba das árvores
os animais silvestres,
vitimando
populações ribeirinhas.
Oh! Pobre Amazônia
loteada,
vendida,
internacionalizada.
Suas riquezas
esvaem-se
das tuas fronteiras.
Inteira,
és feita
pedaços
de desilusão.
Morra não!" (...)

(Extrato do poema Não Haverá Curumim, de Maria do Rosário Lino, no livro "O Adolescer de um novo dia", ver Página +Livros Poesia II)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu te orvalho, tu me orvalhas

Brugges, na Bélgica: uma cidade que é toda poesia

Poesias de Maria do Rosário Lino, em "Eu te orvalho, tu me orvalhas":

(I)

Eu-deserto decerto não ruirei.

Afinal, o que são as dunas

senão pirâmides prontas a ruir?

Eu-deserto por certo sou maior que elas.

Elas? São um monte de mim

sem amanhã.

(II)

Eu vi! Eu vi as flores

latejarem de desejo.

E antes que eu fosse o beijo

tornei-me um feixe de amores.

(...)

(III)

O ventre liso,

o corpo untado

em óleo de calêndulas.

O pêndulo suspenso

no sol.

A hera, a trepadeira.

A freira ressurge

coberta de luz.

Descobrira-se mulher

beijando-se no espelho.

DEUS: ANDAI-ME! Vozes, Dores, Amores

Veneza: onde a poesia navega por todos os poros

Poemas de Maria do Rosário Lino em "DEUS: ANDAI-ME!":

(I)

Voz rouca daquele perfume

preso no ar.

(II)

Dei-te o meu sufrágio.

Dei-te o meu Sul frágil

aonde pode acolchoar-te

em minhas moedas de luz,

reluzentes de amor,

Podo fim à tua nobre solidão.

(III)

AO MORRER TODA MORTE ACABA.