segunda-feira, 28 de março de 2011

Poemas pelo Dia da Mãe Terra, 22 de abril




Poemas de Maria do Rosário Lino que estimulam uma reflexão sobre o Dia Internacional da Mãe Terra, celebrado a 22 de abril. A proclamação da data pelas Nações Unidas supõe o reconhecimento de que a Terra e seus ecossistemas nos proporcionam a vida e o sustento ao longo de nossa existência, e por isso todos têm responsabilidades compartilhadas com essa que é a casa comum de todos.


EM BUSCA DO HOMEM PRÓDIGO

Eu corria

leve e solto

pelo planeta.

Hoje falta-me o fôlego.

Sinto-me pesado,

envelhecido num curto

espaço de tempo: a modernidade.

Antecedi outra forma de vida

que agora me mata,

subtraindo meu oxigênio, meu ar.

Respirar é difícil

também à Flora minha mulher.

Mas lutamos juntos,

sentindo a muita laceração

de nossos dias.

Mutuamente, nos consolamos

aos gritos de sobrevivência.

Mas ninguém nos ouve.

Somente o eco surdo

da própria advertência.

Meus braços são as baías,

os arquipélagos, os atóis,

as afluências do meu nascimento,

até agora imorredouro.

O corpo da companheira

é a planície curva, os arbustos,

a relva, o juritiubim.

Nossos filhotes, os atobás,

o jacaré-do-papo-amarelo,

os baiacus, os lagostins.

Nossos atos, a constante

interação de fazer amor,

erigindo aromas.

Os inimigos gratuitos

não nos querem no percurso.

E alimentam o aquecimento da Terra,

desequilibrando nossos hormônios,

nossa harmonia,

nosso ritmo cadenciado,

nossa produção de vida.

No trajeto, o restilo estupefaciente,

os dejetos decadentes,

o óleo transbordado,

a poluição desafiando nossas retinas.

O entulho nuclear

abreviando o amanhã.

E no entanto,

apesar de tudo,

ainda sou Doce,

sou Francisco,

Negro,

Vermelho,

sou Pacífico.

Sou água salgada,

sou o líquido

que te escorre

durante o banho.

Sou o corpo

que te serve durante a sede.

Sou o líquido

que te contém por entre os poros.

Sou o suor das matas,

o leite dos nascedouros,

o leito dos pescadores.

Sou rio, sou mar,

sou oceano, sou cantante,

na areia branca.

Sou carícia nas noites mornas.

Sou delícias no teu sorvete.

A seiva que se ruboriza

diante do Sol dourando

a pele trans-atlântica, transcendente.

Que não te pede nada, senão,

unicamente, que também sejas...

meu filho!!!


(Do livro"O adolescer de um novo dia", Edições Independentes, Campinas, 1997)


A chuva era rosa

e despetalava-se

sobre a madrugada

como uma noiva recém-desposada.

Um perfume suave ardia

na brisa inebriada, sem defesas.

Em doces melenas dançantes

o luar afagou-se entorpecido.

Fora-se um dia não dormido,

um momento sonhado,

resgatado em divã celestial.

O sol salgado pelo odor

da terra nasceria feliz,

por um longo triz apaixonado.


(Poema do livro "Sóis azuis em noites áridas", Komedi, Campinas, 2008)


Lindos índios...

... líndios!!!


(Do livro "Deus: andai-me! Vozes, dores, amores", Komedi, Campinas, 2009)

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