Moléculas da canção
(Komedi,2003)
Antologia dos 11 primeiros livros de Maria do Rosário Lino. Texto da contracapa:
Nas bordas do pensamento
Ejaculamos música
Molécula por molécula
Através da palavra
Ou prescindindo dela.
Apenas sentindo sua presença,
O ser humano é musical!
É canção! É harmonia!
Viva a essência.
Sóis azuis em noites áridas
(Komedi, 2008)
"Uma viagem ao coração da poesia, um itinerário pelas pétalas da dor e os licores do prazer. O discurso de Maria do Rosário Lino transita no fio da navalha entre a perplexidade e o êxtase da existência. Em Sóis Azuis em Noites Áridas, a poeta veste a pele dos deserdados da história, bebe o sangue dos déspotas de sempre e celebra a vitória do amanhecer da vida, redimida no altar da valorização da diferença, da tolerância e da integridade da criação. O mundo é o meu texto, parece dizer a autora, para quem o verbo é a matéria-prima, e a esperança, a essência de tudo. Um tributo à palavra que liberta". (Contracapa do livro Sóis Azuis em Noites Áridas, de Maria do Rosário Lino, Editora Komedi, 2008)
Nas teias daquelas arábias encantantes
Senti o véu do teu corpo em seda enlouquecido.
De um só bramido vem a sapiência do teu prazer
Que incontido me entorpece e entontece
O corpo mais que a calma,
A brisa mais que o ventre.
Daquele alpendre cheio de sóis azuis
Presenciei rubis jamais vivenciados.
Terei eu exaltado teus deuses errados?
Terá sido vil o meu maior sorriso?
Um siso de idéias me acomete
Então como um soluço
Sem qualquer solução...
A alameda cortava minhas pernas
Como um punhal lento no seu ápice.
Subia, subia, subia e passarinhos nobres
Cantavam ao meu redor, solidarizados.
Afinal, para quê subir se os sonhos
Estão abaixo, ao simples toque da mão,
Naquele pé de mamão ou no fogão
Que não se apaga na hora da minha fome?
O home acima afia facas.
Por isso subo.
A fim de que sua face serrilhada termine
A sanha mais cedo.
Medo!
Medo do corte...
Abdução
no ventre
da luz
(Campinas, 2000)
Nos olhos, o ventre da luz,
do corpo e da alma,
com cegueira física ou não,
mãos maquiavélicas introjetam
subliminares e letais
cataratas sociais,
distorcendo a visão
e percepção reais
da justiça, da ética,
da bondade e das verdades.
Nos assassinam através
de nossas próprias íris
defloradas e sem mais rosto,
que compõem, incauta/mente,
sua infeliz contra-capa.
Seu espelho:
um mundo destroçado
e apenas reticenciado
n´alguma esperança
intuitiva de fé,
socorro e mãos-à-obra,
no contra-pé da morte.
E da extinção
apontada no horizonte (Contracapa de "Abdução no ventre da luz")
I
Eu tenho um desvio
linguistico trágico:
adoro versos verborrágicos.
A mim soam como hemorragias
de emoção. A plástica não importa.
O coração sim. Aos desafetos,
peço perdão irreconciliável.
Aos adeptos, que pensem em mim.
II
Enfim, internamente exposto ao sol
morno e macio, renasci
lentamente como quem veste,
quem veste a roupa do dia
do seu casamento. Estive só,
por um tempo sem luz
e cruzamentos de afetos lilazes.
Agora o azul flori a prosa
e minh´alma já rosa
pode proferir a poesia!
III
O homem é abduzível.
Dessa operação é dedutível
sua luz ou sua penumbra.
Prosa para
Borboletas
(Campinas, 2001)
Borboletas esvoaçam encantantes.
Ninguém ouve sua prosa poética.
Nem é preciso... sua beleza
luminescente fala por si!
Entretanto, pelo seu próprio brilho
e eloquencia visuais,
mais a liberdade, atraem
espinhos venenosos (alfnetes)
Donde menos esperam,
dos colecionadores de vidas
ou colecionadores da morte:
os homens, que afinal
não suportam resignadamente
a beleza e a felicidade alheias
ou a inocência da divina criação.
(Contracapa de "Prosa para Borboletas")
Uma chuva de sangue
verteu almas para o céu.
O negro se apossou do azul
e a autora foi extraviada
para sempre. Do ventre
terreno abriu-se uma fenda
sem oferendas vivas
senão a lúgubre luz
da morte. A corte corria
tanto quanto os vassalos
amontoados como cavalos
à beira do precipício.
Então uma nave de prata
aterrisou na mata e abriu um orifício à cata
de sobreviventes. Todos resgatados,
só houve tempo para o hífen
espacial. A Terra virou
poeira cósmica,
a cólera aplacou-se.
E foi-se à busca
de ouitra civilização perdida.