terça-feira, 20 de março de 2012

POEMAS PELO DIA MUNDIAL DA ÁGUA 2012 - 22 DE MARÇO

Distrito de Cachoeira, em Maranguape (CE)


DEIXA A ÁGUA

Água morna, água fria
Água viva
Água

Lágrima feliz
Horizontal da natureza
Sobe e desce
Meu corpo emudece
Durante o banho.
Água - champagne dos deuses.
Deixa a água cantar
Deixa a água contar
suas histórias angelicais
Deixa a água hidratar
nossas sedes mananciais
Deixa a água cessar
as inquietações existenciais
Deixa a água energizar
o corpo, a alma, a mente,
tudo mais
na paz.
Deixa a água.

(Do livro "Pó Ética da Paz", 1993)

O que estará
por trás dos ventos
que nunca abrem
as portas do seu pensamento?
Eles andam envoltos
em varais e roupas aradas,
aradas por janelas escancaradas,
indiferentes à chuva.
A chuva, nem ela
penetra o vento
que ágil, ciclônico ou lento
morre sempre debruçado na solidão.

(Do livro "Sóis azuis em noites áridas", 2008)

PURIFICAÇÃO

As frutas têm parâmetros
secretos de afabilizar as almas.
Sementes calmas de transcendência
depuram a fauna de nossos
bichos interiores. Um nicho
de luz nos afaga os ânimos
magnânimos enquanto
a impaciência dorme quieta.
Diletas amigas dos líquidos
elas secretam gotas de amor
com a água, companhia
concreta na abstração sem mágoa
a soluções plausíveis.
Comestíveis absolutas
nos cedem saliva saborosa
e indecorosa maciez à flor
dos lábios. Uva,
um círculo holístico. Nectarina,
o místico néctar dos deuses. Maçã,
o bom gosto original do pecado inocente. Pêra,
a têmpera/mente suave.
Cada um tem a chave
para uma viagem de frente
para o verso.

(Do livro "Perfume Noir", 2006)


Eu choro a chuva encantada,
Não sinto o medo d´água quedada.
Somente o borbulhar da vida.

(Do livro "Deus: andai-me!", 2009)

MORTE CERTA

Mãos de malha, mãos de palha,
aquiete-se a navalha
deite-se a morte ao seu berço,
vazia e quieta, sem o adereço
do endereço humano como sustento.
Que a morte morra de fome e de sede,
sem pai, nem mãe, nem mais filhos.

(Do livro "Atois da liberdade", 2000)

As geleiras são o vento petrificado
que virou corpo.
Em si não cabem cores
vivas ou tons pastel.
Apenas a sintaxe gramatical
do silêncio que congela
o corpo dos pinguins,
mas nunca suas almas.
As geleiras serão lembranças
deletérias da vida desértica.
Já se roçam umas as outras
a caminho do precipício.
As geleiras morrem.
E o mundo acaba.

(Do livro "Deus: andai-me!" , 2009)

segunda-feira, 12 de março de 2012

PELO DIA MUNDIAL DA POESIA 2012 - On the World Day of Poetry 2012 - En el Día Mundial de la Poesía 2012

Estive com ela em minhas mãos.
Partiu-se em cores, sem sangue.
Pedaços de vida divina contendo sonhos,

sonhos espancados e delícias esparsas
em partículas perdidas levadas,
lavadas pelo vento sem rosto...
... desfacetado e sem fim.

(Do livro "Abdução no Ventre da Luz")

Esse pólem em trânsito
na liberdade SOU EU!!!

(Do livro "Abdução no Ventre da Luz")

A FRONTEIRA

Como ossos da noite
rompi o acaso
do meu destino menino
e despi a torpe envergadura
que me oprimia.
Libertei meus anseios
como peito de mãe
e embalei meus medos
com resinas piedosas.
Num espasmo de brumas
pernoitei sonhos alvos
por entre dunas passeadeiras.
Como um ato de novela
e um novelo de lã
que se desenrola
pus-me a recitar versos
e a soluçar palavras
antes barradas pelo vento.
Expus minhas feridas
e meu hálito
esperando esperançosamente
por um cálido amanhecer.

(Do livro "Uni Versal Afeto!")

Eu esvazio meus olhos
das lágrimas de ontem.

(Do livro "Atóis da Liberdade")

Ah! Escravidão deixa suas farpas
no contemporâneo
se o seu conterrâneo
não é feliz!

(Do livro "Atóis da Liberdade")

Te busquei como a um bosque
encantado de fadas e borboletas,
do assovio oculto das formigas,
das sempre ternas sementes grávidas
que abrigam no ventre os frutos
e dão à luz as flores,
flores beijadas pelo sol.

(Do livro "Deus: Andai-me!")

As toalhas estão úmidas de amor
e nas suas relvas habita o desejo.

(Do livro "Deus: Andai-me!")

Eu sou parido
entre as pólvoras da noite.
Faz-me a corte um lorde enlouquecido,
espreitado pelo lado esquerdo
de um monte em vênus.
Deuses buscam no caminho
infinito a gênese da eternidade
e encontram-me como resposta
perdida na tempestade humana.
Luta insana, terei perdido
a noção do tempo imorredouro?
Deuses, me perdoem. Eu sou
a loção, a poção, o invólucro,
mas não existe a boca
para apropriar-se de mim.
Sim, sou a equação
que permanece reticente.

(Do livro "Sóis azuis em noites áridas")

HAI-KAI

A paz foi enterrada viva.
Ela há de emergir novamente
e de dar à luz o seu filho.

(Do livro "Perfume Noir")

EU E O DICIONÁRIO

As palavras não me pesam.
Elas me levitam!

(Do livro "Perfume Noir")

Subo as escadas do sótão.
Escuro é o ranger da madeira
morta.
Mas uma repentina alegria
me aborta o medo da saudade.
Lembranças despertam
do sono profundo
e como um circo em festa
saem da siesta da minha
memória.
Minha história passada
não foi feliz.
mas eu fiz dos cacos
um caleidoscópio
e hoje me sinto infinito
de possibilidades e milagres.

(Do livro "Eu te orvalho, tu me orvalhas")

O ventre liso,
o corpo untado
em óleo de calêndulas.
O pêndulo suspenso
no sol.
A hera, a trepadeira.
A freira ressurge
coberta de luz.
Descobrira-se mulher
beijando-se no espelho.

(Do livro "Eu te orvalho, tu me orvalhas")

Ah! Poesia passa
passa pela minha ótica estética,
eclética, buscando inspiração.
Serei teus olhos, prometo,
tuas meninas arcoirisando
tuas percepções mais subliminares.
Apenas não me deixes, não me deixes
definhar da fome da língua ao coração.

(Do livro "A luz é o corpo da alma")

Sim, emprestei-te minhas lágrimas,
aquelas vindas de dores redundantes,
para que pudesses descansar
teu pranto, já que o manto
que te move é pura poesia.

(Do livro "Deus: Andai-me!")

domingo, 8 de maio de 2011

Poemas pelo Dia Mundial do Meio Ambiente 2011, a 5 de junho

Deus, poetizas o meu coração


E minha existência


Verdeja!


Como a princesa natureza.




(Do livro "Deus: Andai-me!")






As toras embalsamadas


da fome dos ribeirinhos


da morte de todas as tribos


ressurgirão erguidas


em novas cruzes


ou horizontalizadas


em muitos caixões.


No anonimato.




(Do livro "Abdução no ventre da luz)





A Terra, menina virgem

foi rupturizada,

em viagem-vertigem,

patrocinada forçosamente

pelo patrão.

Fora de órbita, abduzida e traumatizada,

não lhe deu filhos.

Terrificada, canibalizou-se.

Devorou o seu violentador,

vomitado atroz/mente.

Hoje, desintoxicada, feliz,

é terra

do ventre livre.

Só come o que lhe faz bem.



(Do livro "Abdução no ventre da luz")

segunda-feira, 28 de março de 2011

Poemas pelo Dia da Mãe Terra, 22 de abril




Poemas de Maria do Rosário Lino que estimulam uma reflexão sobre o Dia Internacional da Mãe Terra, celebrado a 22 de abril. A proclamação da data pelas Nações Unidas supõe o reconhecimento de que a Terra e seus ecossistemas nos proporcionam a vida e o sustento ao longo de nossa existência, e por isso todos têm responsabilidades compartilhadas com essa que é a casa comum de todos.


EM BUSCA DO HOMEM PRÓDIGO

Eu corria

leve e solto

pelo planeta.

Hoje falta-me o fôlego.

Sinto-me pesado,

envelhecido num curto

espaço de tempo: a modernidade.

Antecedi outra forma de vida

que agora me mata,

subtraindo meu oxigênio, meu ar.

Respirar é difícil

também à Flora minha mulher.

Mas lutamos juntos,

sentindo a muita laceração

de nossos dias.

Mutuamente, nos consolamos

aos gritos de sobrevivência.

Mas ninguém nos ouve.

Somente o eco surdo

da própria advertência.

Meus braços são as baías,

os arquipélagos, os atóis,

as afluências do meu nascimento,

até agora imorredouro.

O corpo da companheira

é a planície curva, os arbustos,

a relva, o juritiubim.

Nossos filhotes, os atobás,

o jacaré-do-papo-amarelo,

os baiacus, os lagostins.

Nossos atos, a constante

interação de fazer amor,

erigindo aromas.

Os inimigos gratuitos

não nos querem no percurso.

E alimentam o aquecimento da Terra,

desequilibrando nossos hormônios,

nossa harmonia,

nosso ritmo cadenciado,

nossa produção de vida.

No trajeto, o restilo estupefaciente,

os dejetos decadentes,

o óleo transbordado,

a poluição desafiando nossas retinas.

O entulho nuclear

abreviando o amanhã.

E no entanto,

apesar de tudo,

ainda sou Doce,

sou Francisco,

Negro,

Vermelho,

sou Pacífico.

Sou água salgada,

sou o líquido

que te escorre

durante o banho.

Sou o corpo

que te serve durante a sede.

Sou o líquido

que te contém por entre os poros.

Sou o suor das matas,

o leite dos nascedouros,

o leito dos pescadores.

Sou rio, sou mar,

sou oceano, sou cantante,

na areia branca.

Sou carícia nas noites mornas.

Sou delícias no teu sorvete.

A seiva que se ruboriza

diante do Sol dourando

a pele trans-atlântica, transcendente.

Que não te pede nada, senão,

unicamente, que também sejas...

meu filho!!!


(Do livro"O adolescer de um novo dia", Edições Independentes, Campinas, 1997)


A chuva era rosa

e despetalava-se

sobre a madrugada

como uma noiva recém-desposada.

Um perfume suave ardia

na brisa inebriada, sem defesas.

Em doces melenas dançantes

o luar afagou-se entorpecido.

Fora-se um dia não dormido,

um momento sonhado,

resgatado em divã celestial.

O sol salgado pelo odor

da terra nasceria feliz,

por um longo triz apaixonado.


(Poema do livro "Sóis azuis em noites áridas", Komedi, Campinas, 2008)


Lindos índios...

... líndios!!!


(Do livro "Deus: andai-me! Vozes, dores, amores", Komedi, Campinas, 2009)

quarta-feira, 23 de março de 2011

MAIS POEMAS PELA ÁGUA, NA SEMANA DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA


Água em lombo de burro ainda é cena

comum em muitas áreas do Nordeste.


Naquele país de águas secas
Dissecaram-se esperanças
Saídas dos precipícios.
Inauspiciosos dias e noites
Calaram a voz dos ventos
Lamentos, apenas lamentos.
A terra que prometia vida
Exaurida pariu a dor da morte
Morreram também seus algozes
inanidos pela fome vingadora.

(Do livro "Sóis Azuis em Noites Áridas", Komedi, 2008)

segunda-feira, 21 de março de 2011

POEMAS PELA ÁGUA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA


Pantanal, maior área alagada do planeta

ÁGUA


Aqui, em se plantando


tudo dá: dá amor


nas veias dessa árvore


líquida que liquida a morte


como as fezes do acaso.


Casualidade, nenhuma.


O desvario é nuvem d´água


sagrada no amanhecer da mata.


Suas cascatas despejam


energia vital como


um vitral de luz


que se traduz em céu


em contato com o ar.


Ah! Quando o rio acaricia o mar,


suas vestes rugosas vertem


bolhas e espuma como


uma dança feliz de princesa.


Naquele momento a correnteza é


o encontro, um fragmento


de saúde, paz, plenitude, beleza.


(Poema do livro "A Luz é o Corpo da Alma", Komedi, 2002)



O ÚLTIMO FAROL


Suas águas viajam


transcendendo o horizonte.


Por essa floresta líquida


trafegam vidas e navios,


histórias e canções.


Ali habitam monstros


da fantasiosidade humana,


estrelas salgadas,


embarcações mergulhadas em infinito.


Nada mais bonito que a colcha azulada


percorrendo as praias entoando revoada


de figuras aladas.


O tom chumbo sóbrio e solene


acontece quando o sol se fecha.


Uma mecha de raios em flecha


desaba ao chão.


Mas os oceanos são povoados também


de criaturas tecnológicas.


Ideológicas, sondas submarinas


auscultam o sismo geo-político


mirando nas retinas metálicas


movimentos intempestivos.


Ah! O Atol de Mururoa,


foste uma terra tão boa.


Hoje envenenaram teus mantos


e aos prantos nenhuma ave mais voa


nenhum peixe faísca as ondas de luz.


Tudo se reduz à morte artificial.


Enquanto outras células ainda vivas


agonizam cativas da podridão.


Não! Se a água padecer


não restará sobreviventes.


Essa guerra surda hoje enterra


nossos parentes aquáticos.


Sorumbáticos, teremos o mesmo fim.


E lacônicas as estrelas


nos olharão piedosas,


temerosas, porém,


que o potencial destrutivo terreno,


num último e verdadeiro ato obsceno


alcance o macrocosmos,


matando também o eterno.


(Poema do livro "O adolescer de um novo dia",


Edições Independentes, 1997)



MAIS POEMAS DE MARIA DO ROSÁRIO LINO SOBRE ÁGUA NAS COLUNAS "+LIVROS POESIA II" e "POEMAS PELO MILÊNIO"

A Luz é o Corpo da Alma na lista de eventos das Nações Unidas sobre Dia Mundial da Água




Com a iniciativa Poemas pelo Dia Mundial da Água, o blog A Luz é o Corpo da Alma, sediado em Campinas (SP), foi incluído na série de eventos das Nações Unidas, relativos ao Dia Mundial da Água, lembrado neste dia 22 de Março de 2011. Neste ano o tema do Dia Mundial da Água é Água para as cidades: respondendo ao desafio urbano. O blog A Luz é o Corpo da Alma publicará neste dia 22 de março vários poemas de Maria do Rosário Lino, tendo a água como tema central. Lista completa dos eventos no link http://www.unwater.org/worldwaterday/events/events-list/en/?page=5&ipp=20&L=0&L=0&L=0&L=0&author_email=5